segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Mediunidade!


 
Uma das maravilhas, uma das “coisas” que mais fascinam e ao mesmo tempo assustam as pessoas em um templo de Umbanda são as incorporações. É o fenômeno mediúnico, a cessão do corpo e da mente de um médium a outra inteligência, a outro espírito. 
 
Mas antes de falarmos propriamente da mediunidade nos terreiros, a mediunidade da Umbanda é preciso conceituar a mediunidade, ou tentar fazê-lo. Nome criado pelo codificador do espiritismo ao trabalhar com o termo meio, intermediário.
 Ou seja, o médium é o intermediário, aquele que percebe, que capta, que sente a presença das energias, dos espíritos desencarnados, ou melhor, de espíritos, de seres e de energias de outros planos astrais. 


Como se pode observar a mediunidade apesar de assim determinada por Kardec no final do século XIX é fenômeno muito mais antigo, sendo provavelmente tão antigo quanto a existência da vida em nosso planeta. Os profetas do antigo testamento, Jesus Cristo, Moisés, Buda, Confúcio, e tantos outros personagens de nossa história com certeza são exemplos de médiuns. 

Isto nos traz uma indagação: existe alguém que de uma forma ou de outra não tenha alguma interação, ou que não sofra nenhuma influência de outros planos, dos espíritos, para não ser considerado médium? 

Certamente que a resposta será negativa. De uma forma ou de outra sempre seremos influenciados, e sentiremos a presença de outras energias e espíritos, por isso que se fala que todos os seres humanos são médiuns. 

Mas, você poderá perguntar: “se todos somos médiuns, todos poderemos trabalhar com a nossa mediunidade? Receber espíritos? Nos comunicarmos com eles de forma direta e inteligível?” E é neste ponto que precisamos fazer uma diferença. 

Existirão aqueles em que suas mediunidades serão afloradas de uma tal forma que, seja por meio da incorporação, da visão, da escrita, da intuição, etc., ele ou ela poderão traduzir a vontade, as palavras, a força, as necessidades dos seres de outros planos astrais, e assim dos desencarnados (espíritos que já estiveram encarnados) de uma forma inteligível, e outros não conseguirão assim proceder. Assim digo que os médiuns que por uma das diversas formas de mediunidade possam expressar o pensamento de outros seres de outros planos são os médiuns de trabalho. 

Isto não quer dizer em hipótese nenhuma que esses médiuns de trabalho possuem um dom, uma dádiva. Pois a mediunidade não é um presente, uma benesse divina para alguns escolhidos. 

É sim uma faculdade que Deus por meio dos Orixás dá a alguns indivíduos para que por meio desta faculdade possam resgatar suas dívidas, ao mesmo tempo em que levam a vontade e a força dos Orixás, que permitem que espíritos menos evoluídos possam receber ajuda e energias divinas. Ou seja, ser médium não faz de ninguém um ser melhor, não é o mais especial, ou o mais abençoado, é um espírito igual a todos, e como todos, deve buscar um caminho para abdicar de suas vaidades, orgulhos e de seu egoísmo. É um ser que dentre inúmeras ferramentas que os Orixás nos dão, recebe a ferramenta chamada mediunidade. 

Mas, ao mesmo tempo em que não é um dom, com certeza é uma responsabilidade, pois deverá fazer bom uso de sua faculdade. Se a mediunidade é um instrumento, uma ferramenta cabe a nós, médiuns, utilizá-la com muita fé, amor e responsabilidade.
Seguindo nossa abordagem sobre este tema tão interessante, é preciso darmos ao menos uma pincelada sobre os tipos de mediunidade. 

A mediunidade poderá se manifestar de inúmeras formas, ou seja poderemos perceber e entender a atividade mediúnica das seguintes maneiras: 

a) A intuição, a mais primária e primordial manifestação da mediunidade. A intuição é quando captamos de uma outra inteligência de uma outra mente que não a nossa alguma informação ou aviso. É aquela voz que se forma no fundo de nossas mentes, uma idéia relâmpago, que do nada surge, mas que sabidamente parece que nos foi assoprada. Um exemplo da intuição se deu comigo: em uma ocasião eu e minha esposa, na época minha namorada, estávamos parados no sinal vermelho em uma ladeira. Um pouco antes do sinal abrir veio uma vontade de deixar o carro descer de ré a ladeira, e assim o fiz. Parei, e como se algo me dissesse demorei alguns segundos para arrancar o carro quando o sinal abriu. Mas foi o suficiente para evitar um grave acidente. Um veículo grande furou o sinal em alta velocidade. Se eu não tivesse deixado o carro descer, ou mesmo se arrancasse imediatamente ao ver o sinal verde, muitas coisas estariam diferentes hoje. Saber ouvir e interpretar estes pequenos avisos é um dos grandes desafios de todos nós. Quem não tem uma história parecida que antes de fazer alguma coisa não escutou um aviso e não deu bola e algo aconteceu? 

b) Outra forma da mediunidade é a própria percepção sensorial, a sensibilidade. Ou seja, é a capacidade de sentirmos a presença de outros espíritos, de sentirmos as energias, e que tipo de energias estão naquela localidade naquele momento. É aquela situação em que entramos em uma casa e apesar de tudo estar bonito, organizado, algo nos oprime, nos angustia, pesa em nossos ombros e cabeças. Ou então quando adentramos em local que apesar de estranho, e desajeitado sentimos uma paz, um conforto, uma força positiva nos inundando. Ou então quando vamos ao mar e sentimos sua força, adentramos nas matas, ou adentramos num açougue, numa festa mais radical. Quem percebe estas diferenças possui uma sensibilidade mediúnica.

c) A vidência. Vidência é a capacidade de enxergar, de visualizar os espíritos, seres ou objetos de outros planos. É aquela forma de mediunidade que muitos temem, se apavoram e pedem para não ter com medo de encontrarem em suas camas e quartos outros espíritos. A vidência é assim a capacidade de visualizar o outro plano. Digo visualizar porque a vidência poderá ser mental (formação das imagens, dos espíritos, etc. na mente, não precisando a pessoa estar de olhos abertos) ou então poderá ser expressa pelos olhos físicos, ou seja a pessoa vê, enxerga o outro planos como enxergamos este texto no computador ou no papel. 

d) A clarividência, é assim uma especificidade da vidência, que pode ser entendida como a capacidade de enxergar situações que acontecerão no futuro. 

e) A psicografia, ou a mediunidade da escrita é outra forma. São aqueles momentos em que os médiuns por meio de caneta, lápis e papel e hoje alguns por meio do próprio teclado do computador, conseguem dar vazão a idéias e pensamentos, conseguem descrever situações, orações e acontecimentos ditados por outros seres. 

f) A psicofonia, ou a mediunidade da fala. Ou seja, a mediunidade que se expressa por meio das cordas vocais. O médium descreverá, ou passará os pensamentos dos espíritos por meio de sua fala. 

g) A mediunidade de materialização ou de efeitos físicos, ou seja a capacidade de dar forma visível e palpável a objetos, energias e espíritos de outros planos, ou mesmo a capacidade de desmaterializar, ou seja de fazer com que determinado pedaço de matéria deixe de existir. É a mediunidade usada nas curas físicas, ou nas aparições coletivas. 

h) Ainda existirá a mediunidade das pinturas, composição de músicas, escrita direta, entre outras formas que não são tão usuais na Umbanda. 

i) E é claro a mediunidade de incorporação, que não é o mesmo que psicofonia, pois é a capacidade de se permitir que um espírito use seu corpo (movimentos) e sua fala de uma só vez. A mediunidade de incorporação é a mais usual e facilmente identificada em um terreiro de Umbanda.

Percebam que eu me dirijo a formas de mediunidade e não de médiuns. Não se pode dizer que existam médiuns videntes, médiuns de incorporação, e assim por diante. Médium é médium, poderá sim ter mais facilidade para praticar e exercer uma determinada mediunidade, mas em algumas situações ou em alguns momentos da vida poderá ver surgir outras formas de mediunidade. Pois como ser médium é ser um intermediário, a forma como isto se dará não é o mais importante, e poderá ser alterada durante uma jornada na Terra.
Depois de entendermos que a mediunidade se manifesta e pode ser perceptível de várias maneiras, e entendermos que os médiuns são intermediários, tradutores das mensagens de outros planos astrais, passamos a estudar os tipos de médiuns.
 
Os médiuns podem ser classificados em conscientes, inconscientes e semi-conscientes.
 
Os médiuns conscientes são aqueles que percebem de forma plena tudo enquanto estão em exercício da mediunidade. Assim vão se lembrar do que viram, ouviram, escreveram, etc.. Mesmo durante a incorporação estarão com o pleno domínio de suas faculdades materiais, podendo interferir a qualquer momento na manifestação mediúnica. De uma forma geral todos os médiuns de Umbanda começam suas incorporações de forma consciente. Alguns com o passar do tempo passam a ser semi-conscientes.
 
Os médiuns semi-conscientes são aqueles em que apesar de lembrarem de suas manifestações, perdem em muito a noção de tempo, não têm 100% do domínio de sua fala e corpo. Mas isto não quer dizer descontrole, apenas que os movimentos são feitos e as falas professadas e a escrita realizada de forma simultânea, como se assistissem seu movimentos.
 
Os médiuns inconscientes são aqueles que durante as atividades mediúnicas perdem completamente a consciência, como se dormissem um sono profundo. Não há qualquer vestígio de memória no período da manifestação. Este tipo de médium é muito raro e está fadado a extinção, pois o importante é que o médium durante seu trabalho possa também receber os ensinamentos. Além da garantia que se tem contra as mistificações.
 
Na psicografia e na pintura/escultura mediúnica poderá ainda existir outra forma de médiuns que são os médiuns mecânicos, que apesar de manterem sua consciência estarão escrevendo ou pintando sem sequer ter noção do que estão fazendo. É como se os braços ou pés se movimentem sem a vontade mental do médium.

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